Pelo menos é o que se deduz das medidas tomadas pelos Serviços tutelares da saúde ou a promulgar. Principalmente de noite, fica proibido adoecer em casa, a menos que o paciente se queira sujeitar a passar as estradas da ilha em correrias até ao Centro eleito para acolher doentes urgentes desde as 8 horas da noite. (No verão o sol ainda vai alto...)
Parece impossível que, neste século vinte e um, se trate o doente de maneira tanto arcaica e melindrosa.
Antigamente, meio século atrás, essa medida seria tolerada, pois a ilha só tinha três médicos, um em cada sede de concelho, e não dispunha de estabelecimentos hospitalares de qualquer grau de valimento.
Com o estabelecimento dos, então classificados, hospitais sub-regionais, o sistema de assistência aos doentes modificou-se, totalmente. Primeiro, foi construído o hospital de São Roque, dedicado à Rainha Santa Isabel. Para a sua administração foi criada a Misericórdia que, até então, não existia.
Na Madalena, havia o legado Terra Pinheiro e um espaçoso terreno, que nunca foram utilizados. Jacinto Ramos, então funcionário naquela Vila, promoveu a criação da Misericórdia e conseguiu que o banco respectivo lhe entregasse o depósito legado. Nisso teve grande influência o Governador de então.
O terreno escolhido e aprovado para o hospital das Lajes não agradou ao Ministro das Obras Públicas, na sua passagem pela ilha, e outro houve de ser escolhido. Mas esse não comportava o edifício projectado. O respectivo projecto foi cedido à nova Misericórdia da Madalena, pois ali não havia dificuldades de terreno.
Entretanto, a Comissão de Construções Hospitalares elaborou novo projecto, de dois pisos. A Misericórdia promoveu a expropriação do terreno, a obra foi adjudicada em concurso público e os serviços assistenciais tiveram início no dia 1 de Janeiro de 1960, com a proficiente orientação técnica do respectivo Delegado de Saúde e Médico Municipal, Dr. Cardoso de Campos.
O hospital sub-regional, como se classificava, dispunha de maternidade, clínica geral e banco de tratamentos. E funcionou regularmente. Os serviços de maternidade eram bastante procurados e algumas centenas de crianças ali nasceram.
Desapareceu a maternidade. Deixou de haver o serviço de análises, com a aposentação do respectivo analista. Parece que agora as análises requisitadas pelos médicos do Centro de Saúde das Lajes passaram a ser feita no centro - hospital da Madalena. Um progresso, não haja dúvidas...
Privado assim de alguns meios de diagnóstico, o centro de saúde quase passou a um simples consultório, embora com internamento.
Criado pela Revolução de 1974 o serviço de Médicos à Periferia, alguns deles foram colocados nos três hospitais picoenses, cerca de uma dúzia.
Ainda hoje esse número se mantêm,( embora a categoria do serviço hospitalar tivesse passado a Centro de Saúde.) E foi então que o Estado assumiu a administração do Centro deixando a Misericórdia, ou todas as Misericórdias do País de ter qualquer interferência nos serviços hospitalares.
Agora, um novo sistema se quer implantar, esquecendo que a população da Ilha vai ficando envelhecida e, consequentemente, mais carecida de assistência médica.
Levar um doente da Piedade para a Madalena, por mais cómodo que seja o veículo de transporte, não deixa de ser um tormentoso sistema. Andar mais de cinquenta quilómetros a sofrer para, talvez se vir a concluir que o doente tem de continuar a viajar para outra ilha, é uma medida simplesmente desumana, incompreensível e, consequentemente, inaceitável. (Quem já passou por semelhante situação, pode dar seu testemunho!)
E os médicos e enfermeiros que existem nos centros das Lajes e de São Roque vão ser concentrados na Madalena? De quem é a luminosa ideia?
Naturalmente, de quem nunca passou nem passará por tão angustiosa situação, porque continuará a ter o médico especialista e o hospital ao pé da porta.
Não seria melhor, mais humano pelo menos , despovoar totalmente as ilhas secundárias e transferir aqueles que por elas ainda vegetam, para qualquer cidade? De tudo o que nos está a acontecer é, pelo menos, esta a ideia que nos fica...
E os Médicos que exercem a sua actividade no Centro das Lajes, apesar da sua comprovada proficiência, e com eles os pacientes, tudo isto vão suportando. Até quando?
Uma tristeza como dizia o outro...
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